A Captura do Estado e a Ilusão da Democracia em Portugal
1. O Início da Degradação do Estado
Após a Revolução, Portugal seguiu um caminho que, ao invés de consolidar uma democracia transparente e participativa, resultou na apropriação do Estado por uma elite política. Inicialmente, com as nacionalizações, o controlo da economia foi entregue ao "povo" – ou assim nos fizeram crer. Anos mais tarde, esse processo foi revertido por privatizações feitas à margem dos cidadãos, sem transparência e sob forte influência de interesses particulares.
Desde cedo, o povo foi afastado das decisões cruciais para o país. O Estado, que deveria ser um agente do bem comum, tornou-se uma entidade hermética, funcionando como uma máquina de poder ao serviço de uma classe política que rapidamente se blindou contra qualquer escrutínio popular.
2. A Formação de uma Casta Política e a Falsa Democracia
Portugal não desenvolveu uma verdadeira democracia participativa. Em vez disso, instalou-se um sistema onde os cidadãos apenas escolhem, de tempos a tempos, entre candidatos pertencentes a uma mesma classe política – uma elite de "auto-eleitos". Os partidos passaram a funcionar como clubes fechados, acessíveis apenas a quem estivesse disposto a jogar segundo as regras internas, muitas vezes viciadas.
Assim, enquanto a participação eleitoral era mantida como uma ilusão de democracia, o real poder de decisão sobre o futuro do país estava sempre nas mãos dos mesmos grupos. O resultado foi um Estado cada vez mais fechado sobre si mesmo, distante das necessidades do povo.
3. O Estado como Máquina de Repressão Fiscal
Com o passar dos anos, o Estado português tornou-se um monstro insaciável, financiado pelo trabalho árduo dos cidadãos. Em vez de estar ao serviço da população, inverteu-se o paradigma: os portugueses passaram a ser meros alimentadores de uma máquina burocrática e ineficiente.
O sistema fiscal tornou-se injusto e arbitrário. Alguns são excessivamente tributados, enquanto outros escapam às suas responsabilidades. O princípio de equidade foi abandonado, e a gestão dos recursos públicos passou a servir interesses de curto prazo, muitas vezes ligados à perpetuação do poder da elite política.
4. A Alternância no Poder sem Mudança Real
Durante quase quatro décadas, Portugal tem sido governado em alternância por duas forças políticas que, no fundo, fazem parte do mesmo sistema. Cada nova governação herda um país mais endividado e uma população mais sacrificada. A consequência inevitável foi o agravamento da crise económica e social, que, embora previsível e evitável, foi negligenciada pelos sucessivos governos.
A classe política falhou na sua missão essencial: gerir os recursos do país com responsabilidade e em benefício dos cidadãos. Em vez disso, utilizaram o poder para alimentar um Estado descontrolado, que impõe sacrifícios ao povo sem apresentar soluções eficazes para o desenvolvimento nacional.
5. A Urgência de uma Mudança Estrutural
A situação atual exige uma reforma profunda do Estado. O aparelho governamental precisa de ser redimensionado, tornando-se mais eficiente e menos oneroso para os cidadãos. O objetivo central da democracia deve ser restaurado: um governo que serve o povo, e não o contrário.
Sem uma reestruturação séria, Portugal continuará a caminhar para um colapso económico e social. É essencial cortar desperdícios, eliminar privilégios injustificados e garantir que o Estado seja transparente e responsável. Só assim será possível reconstruir um país que pertença verdadeiramente aos seus cidadãos e que invista no seu futuro.
6. Conclusão: A Necessidade de um Novo Paradigma
A crise em que Portugal se encontra não é apenas económica – é também uma crise de valores e de modelo de governação. Durante décadas, foi-nos vendido um conceito distorcido de democracia, onde a participação popular se limitava ao ato de votar. Mas democracia verdadeira exige mais: transparência, responsabilização e um Estado que realmente sirva o interesse público.
A mudança é inevitável. A questão é se essa transformação será conduzida de forma consciente e ordenada ou se será imposta pelo colapso do sistema atual. O que está em jogo não é apenas o presente, mas o futuro de várias gerações.
Está na hora de recuperar a democracia e devolver Portugal ao seu verdadeiro dono: o povo.
Francisco Gonçalves
Email: Francis.goncalves@gmail.com
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